quarta-feira, 22 de maio de 2013

O significado bíblico de ‘Misericórdia quero, e não sacrifício’ (parte 1)


Jeremias: - "Porque nunca falei a vossos pais, no dia em que os tirei da terra do Egito, nem lhes ordenei coisa alguma acerca de holocaustos ou sacrifícios" ( Jr 7:22 );
O
Senhor Jesus ordenou aos fariseus e escribas que aprendessem o significado da ordem: - ‘Misericórdia quero, e não sacrifício’ "Ide, porém, e aprendei o que significa: Misericórdia quero, e não sacrifício” ( Mt 9:13 ), certamente porque aqueles homens doutos da religião judaica desconheciam o significado da ordem divina.

Os escribas e fariseus eram homens versados na lei mosaica e estudavam os salmos e os profetas. Inclusive consideravam o povo como malditos porque nada conheciam da lei ( Jo 7:49 ). Mas, adespeito de todo conhecimento que julgavam ter, Jeus mandou que fossem e aprendessem o significado da Escritura que diz: ‘Misericordia quero, e não sacrifícios’ ( Os 6:6 ).
Se os doutores à época desconheciam o verdadeiro significado do exigido por Deus, será que o homem do nosso tempo conseguiu aprender o que Jesus ordenou? Qual é a misericórdia que Deus exige?
É suficiente ir aos dicionários e pesquisar o sentido do termo ‘misericórdia’? O que dizem os dicionários?
É comum ouvir que ‘misericórdia’ diz de uma virtude, ou um sentimento que leva os homens a se compadecerem da miséria alheia. Termos como: piedade, compaixão, amor, caridade, etc., são traduzidos por misericórdia e comumente utilizados para fazer referencia ao sentimento despertado diante da infelicidade do outro.
O significado bíblico de misericória encontra-se no evento em que Samuel repreende o rei Saul, portanto se faz necessário rever todas as nuances da história que narra o exterminio dos amalequitas.
Quando o povo de Israel foi tirado do Egito, os Amaleuquitas sairam ao campo de batalha contra Israel, e Deus fez o seguinte juramento: “Escreve isto para memória num livro, e relata-o aos ouvidos de Josué; que eu totalmente hei de riscar a memória de Amaleque de debaixo dos céus” ( Ex 17:14 ).
Passado muitos anos, o povo de Israel pediu um rei ( 1Sm 10:19 ), e Saul foi aclamado rei ( 1Sm 10:24 ). Ao cabo de dias, veio a palavra do Senhor a Samuel incubindo Saul com a missão de exterminar completamente os amalequitas “ENTÃO disse Samuel a Saul: Enviou-me o SENHOR a ungir-te rei sobre o seu povo, sobre Israel; ouve, pois, agora a voz das palavras do SENHOR. Assim diz o SENHOR dos Exércitos: Eu me recordei do que fez Amaleque a Israel; como se lhe opôs no caminho, quando subia do Egito. Vai, pois, agora e fere a Amaleque; e destrói totalmente a tudo o que tiver, e não lhe perdoes; porém matarás desde o homem até à mulher, desde os meninos até aos de peito, desde os bois até às ovelhas, e desde os camelos até aos jumentos”( 1Sm 15: 1-3).
Saul convocou o povo para a batalha e emboscou a cidade de Amaleque. Como na cidade estavam os queneus, Saul deu ordem aos queneus que deixassem a cidade para que não fossem destruídos juntamente com os amalequitas ( 1Sm 15:6 ). Esta determinação se deu pelo fato de os queneus terem sido ‘misericordiosos’, pelo que Deus os preservou em vida ( 1Sm 15:6 ).
Ora, em primeira Samuel 15, verso 6, o termo ‘misericórdia’ é empregado segundo o que consta nos dicionários, pois os queneus tiveram piedade dos filhos de Israel quando no deserto.
A bíblia descreve que após os queneus se retirarem do meio dos amalequita, Saul promoveu segundo o que Deus lhe ordenara uma carnificina, pois foram mortos crianças, mulheres, velhos, homens, etc.: ‘feriu Saul aos amalequitas desde Havilá até chegar a Sur, que está defronte do Egito’ ( 1Sm 15:7 ). 
Mas, da matança empreendida, Saul e o povo acharam por bem preservar a vida de Agague, o rei dos amalequitas e o melhor das ovelhas e vacas ( 1Sm 15:8 -9). Saul e o povo não quiseram destruir totalmente os amalequitas, contrariando uma ordem expressa de Deus, consequentemente, o juramento que Deus fez a Moisés não se cumpriu ( Ex 17:14 ). 
Sob a ótica humana, o que Saul fez foi usar de ‘misericórdia’ para com Agague, pois poupou a vida de Agague. Mas, e a ordem de Deus? 
Em seguida veio a palavra de Deus ao profeta Samuel, dizendo: “Arrependo-me de haver posto a Saul como rei; porquanto deixou de me seguir, e não cumpriu as minhas palavras” ( 1Sm 15:11 ). 
Saul entendia que havia cumprindo a ordem de Deus ( 1Sm 15:13 ), porém, esta foi a palavra de Deus: “Porventura, sendo tu pequeno aos teus olhos, não foste por cabeça das tribos de Israel? E o SENHOR te ungiu rei sobre Israel. E enviou-te o SENHOR a este caminho, e disse: Vai, e destrói totalmente a estes pecadores, os amalequitas, e peleja contra eles, até que os aniquiles. Por que, pois, não deste ouvidos à voz do SENHOR, antes te lançaste ao despojo, e fizeste o que parecia mau aos olhos do SENHOR?” ( 1Sm 15:17 -19). 
Diante do exposto por Deus, aniquilar os amalequitas aos olhos de Deus era o ‘bem’, e preservar uma única alma com vida o ‘mau’! Mas, Saul ainda não havia se dado conta do que fizera e contra argumenta: “Antes dei ouvidos à voz do SENHOR, e caminhei no caminho pelo qual o SENHOR me enviou; e trouxe a Agague, rei de Amaleque, e os amalequitas destruí totalmente; Mas o povo tomou do despojo ovelhas e vacas, o melhor do interdito, para oferecer ao SENHOR teu Deus em Gilgal” ( 1Sm 15:20 -21). 
Neste evento a lição da misericórdia está sendo ensinada por Deus, mas os escribas e fariseus, apesar de examinadores das Escrituras, ainda não haviam aprendido: “Porém Samuel disse: Tem porventura o SENHOR tanto prazer em holocaustos e sacrifícios, como em que se obedeça à palavra do SENHOR? Eis que o obedecer é melhor do que o sacrificar; e o atender melhor é do que a gordura de carneiros. Porque a rebelião é como o pecado de feitiçaria, e o porfiar é como iniquidade e idolatria. Porquanto tu rejeitaste a palavra do SENHOR, ele também te rejeitou a ti, para que não sejas rei” ( 1Sm 15:22 -23). 
O prazer de Deus está em que o homem obedeça a sua palavra, e não em sacrifícios. Esta é uma verdade que ecoa por toda a Escritura, a mesma Escritura que os escribas e fariseus manuseavam: 
  • "Pois não desejas sacrifícios, senão eu os daria; tu não te deleitas em holocaustos" ( Sl 51:16 ); 
  • "Fazer justiça e juízo é mais aceitável ao SENHOR do que sacrifício" ( Pv 21:3 ); 
  • "De que me serve a mim a multidão de vossos sacrifícios, diz o SENHOR? Já estou farto dos holocaustos de carneiros, e da gordura de animais cevados; nem me agrado de sangue de bezerros, nem de cordeiros, nem de bodes" ( Is 1:11 );
  • "Porque nunca falei a vossos pais, no dia em que os tirei da terra do Egito, nem lhes ordenei coisa alguma acerca de holocaustos ou sacrifícios" ( Jr 7:22 ); 
  • "Porque eu quero a misericórdia, e não o sacrifício; e o conhecimento de Deus, mais do que os holocaustos" ( Os 6:6 ).

Deus não estava interessado em sacrifícios de bois e carneiros, antes na ‘misericórdia’ "Porque eu quero a misericórdia, e não o sacrifício; e o conhecimento de Deus, mais do que os holocaustos" ( Os 6:6 ). 
Deus exige do homem ‘misericórdia’, mas que tipo de misericórdia? Para Saul, misericórdia significava destruir completamente os amalequitas. Enquanto Saul estava matando velhos, crianças, moças, mulheres, homens, etc., estava sendo ‘misericordioso’, mas quando decidiu preservar Agague, Saul deixou de ser ‘misericordioso’. 
Qual o significado de ‘misericórdia’ que é exigida por Deus através de Oséias? Qual o conceito de ‘mau’ empregado por Deus ao falar a Saul por intermédio de Samuel? 
Ora, através do que foi analisado até o momento, verifica-se que o conceito de ‘misericórdia‘ exigido por Deus destoa do significado que consta nos dicionários: A ‘misericórdia’ que Deus exige do homem significa obediência à Sua palavra. 
Este significado que a bíblia apresenta acerca da ‘misericórdia’ decorre dos adágios, enigmas, parábolas e símiles existentes nas Escrituras que Deus apresentou por intermédio dos seus profetas ( Mt 13:35 ). É em função desta peculiaridade que o significado de misericórdia na bíblia possui uma tradução variável, sendo traduzido por vezes por: amor, caridade, compaixão, etc., porém, o conceito que emerge do termo é ‘obediência’. Compare: 
"Porque eu quero a misericórdia, e não o sacrifício” ( Os 6:6 );
“Eis que o obedecer é melhor do que o sacrificar” ( 1Sm 15:22 ).
Quando enviou Saul para destruir os amalequitas, Deus estava velando para cumprir a sua palavra, e Saul que se dizia servo de Deus não teve compromisso com a ordenança de Deus. 
Por não cumprir cabalmente o ordenado por Deus, Saul foi rejeitado. Ao desobedecer a palavra de Deus Saul tornou-se abominável a Deus, comparável a um idolatra ou feiticeiro. 
Deus não queria nada do interdito, antes cumprir o seu juramento que fizera a Moises, de modo que a vontade de Deus era que Saul obedecesse a sua palavra. 
Ora, enquanto Saul exterminava os amalequitas, estava obedecendo, estava tributando a Deus a ‘misericórdia’ exigida. Como Saul não foi ‘benigno’ matando todos os amalequitas, antes fez o que era mau aos olhos de Deus,  Deus mostrou-se indomável a Saul “Com o benigno te mostrarás benigno; e com o homem sincero te mostrarás sincero; Com o puro te mostrarás puro; e com o perverso te mostrarás indomável” ( Sl 18:25 -26). 
O benigno, o sincero, o puro, o misericordioso é aquele que obedece a palavra do Senhor. A palavra proferida por Deus “E faço misericórdia a milhares dos que me amam e aos que guardam os meus mandamentos" ( Êx 20:6 ), é Deus apresentando o princípio da misericórdia ao povo lá no Êxodo, esta palavra não sofreu variação, não mudou ao longo dos tempos. 
Quando Jesus diz: “Bem-aventurados os misericordiosos, porque eles alcançarão misericórdia” ( Mt 5:7 ), estava demonstrando que somente alcançam misericórdia aqueles que guardam o mandamento de Deus. Os que ‘obedecem’ a ordenança de Deus são os ‘misericordiosos’, ou os que ‘amam’ a Deus, por conseguinte, são aqueles de quem Deus tem misericórdia. 
Deus apresentou seu princípio da misericórdia que Ele mesmo exige na Lei, e não deixou de apresentá-la nos profetas. O protesto de Deus através de Oséias demonstra que a misericórdia exigida é o amor, a obediência: “Que te farei, ó Efraim? Que te farei, ó Judá? Porque a vossa benignidade é como a nuvem da manhã e como o orvalho da madrugada, que cedo passa” ( Os 6:4 ). O termo ‘benignidade’ é traduzido também por ‘amor’, ‘misericórdia’ e ‘obediência’. 
Neste ponto é possível compreender a fala de Deus a Moisés: "Pois diz a Moisés: Compadecer-me-ei de quem me compadecer, e terei misericórdia de quem eu tiver misericórdia" ( Rm 9:15 ). Ora, Deus estabeleceu que terá misericórdia dos ‘misericordiosos’, ou seja, daqueles que deixam o seus pensamentos e que se convertem ao Senhor "Deixe o ímpio o seu caminho, e o homem maligno os seus pensamentos, e se converta ao SENHOR, que se compadecerá dele; torne para o nosso Deus, porque grandioso é em perdoar" ( Is 55:7 ). 
Quando Samuel ordenou que trouxesse a Agage, o rei amalequita, e o despedaçou, cumpriu o mandamento de Deus e, consequentemente, a palavra que Deus havia prometido a Moisés cumpriu-se cabalmente ( 1Sm 15:33 ). Naquele momento Samuel exerceu a ‘misericórdia’ exigida por Deus. Samuel realizou o que era bom aos olhos de Deus, pois na condição de servo do Senhor levou a cabo a promessa que Deus fizera a Moisés. 
Somente compreendendo que a ‘misericórdia’ exigida por Deus é obediência à sua palavra, é possível interpretar o alerta: "Ide, porém, e aprendei o que significa: Misericórdia quero, e não sacrifício. Porque eu não vim a chamar os justos, mas os pecadores, ao arrependimento" ( Mt 9:13 ). 
A importancia desta fala de Jesus destaca-se pelo fato de três evangelista registrarem a convocação de Levi para ser discípulo: Mateus, Marcos e Lucas ( Mt 9:9 -13 ; Mc 2:13 -17; Lc 5:27 -32). 
Os elementos para analisarmos a misericordia e compreendermos a citação que Jesus faz do profeta Oséias possuia como plano de fundo a história da vocação de Mateus. Jesus passou pela recebedoria e convidou o cobrador de impostos a tornar-se discípulo, e em resposta Mateus não fez caso do serviço que desempenhava junto aos Romanos, pois deixou tudo e seguiu a Jesus. 
Em seguida, conforme narra o evangelista Lucas, Mateus fez um grande banquete e muitos publicanos e pecadores reuniram-se em sua casa para comerem ( Lc 5:29 ). 
Aquela profusão de pecadores e publicanos assentados com Jesus à mesa para comer fez os escribas e fariseus murmurarem e perguntarem aos discípulos de Jesus: - “Por que come o vosso Mestre com os publicanos e pecadores?” 
A resposta de Jesus ecoou no recinto em tom de reprimenda à murmuração dos escribas e fariseus: 
“Jesus, porém, ouvindo, disse-lhes: Não necessitam de médico os sãos, mas, sim, os doentes. Ide, porém, e aprendei o que significa: Misericórdia quero, e não sacrifício. Porque eu não vim a chamar os justos, mas os pecadores, ao arrependimento” ( Mt 9:12 -13 ). 
Ao demonstrar que os que precisam de médico são os doentes, e não os sãos, Jesus enfatizou qual era a sua missão. Não há registro de que naquele banquete Jesus tenha realizado algum sinal miraculoso, o que dá a entender que a missão precípua de Jesus refere-se a salvar a humanidade do pecado, visto que Ele veio chamar os pecadores a uma mudança de concepção (metanoia). 
O profeta Isaias descreveu o Messias como aquele que levaria sobre si as ‘nossas enfermidades’, e o termo ‘enfermidade’ é uma figura utilizada para retratar o pecado da humanidade. Ao assentar-se com os pecadores para banquetear-se, Jesus estava em busca dos perdidos, dos pecadores, dos enfermos, pois Ele veio para levar sobre si as enfermidades “Verdadeiramente ele tomou sobre si as nossas enfermidades, e as nossas dores levou sobre si; e nós o reputávamos por aflito, ferido de Deus, e oprimido” ( Is 53:4 ). 
Este é um dos aspectos da profecia: através de figuras representa a realidade. Através de enigmas, parábolas, símiles, etc., têm-se elementos distintos que evidenciam uma ideia por similaridade, comparação "Falei aos profetas, e multipliquei a visão; e pelo ministério dos profetas propus símiles" ( Os 12:10 ). 
Atualmente é comum entender que as ‘enfermidades’ que Jesus levou sobre si referem-se às enfermidades físicas em virtude das ações miraculosas que Cristo operou em meio ao povo, porém, as ‘enfermidades’ e as ‘dores’ que Jesus levou sobre si, na verdade, referem-se às transgressões, às iniquidades, ou seja, ao pecado da humanidade “Mas ele foi ferido por causa das nossas transgressões, e moído por causa das nossas iniquidades; o castigo que nos traz a paz estava sobre ele, e pelas suas pisaduras fomos sarados” ( Is 53:5). 
A propositura de símiles através dos profetas visava trazer à compreensão do homem que o pecado se assemelhava a uma enfermidade. Jesus não levou ao calvário cegueira, lepra, paralisia, epilepsia, etc., antes ele foi moído pelo pecado da humanidade. A enfermidade que pesava sobre a humanidade diz da morte, da separação, da inimizade que se estabeleceu entre Deus e os homens em função da ofensa de Adão. 
É em razão de todos os homens se desviarem e juntamente se tornarem imundos que foi do agrado do Pai fazer o Cristo enfermar (moê-Lo) ao colocá-Lo por expiação do pecado “Todavia, ao SENHOR agradou moê-lo, fazendo-o enfermar; quando a sua alma se puser por expiação do pecado, verá a sua posteridade, prolongará os seus dias; e o bom prazer do SENHOR prosperará na sua mão” ( Is 53:10 ); “Desviaram-se todos, e juntamente se fizeram imundos; não há quem faça o bem, não, nem sequer um” ( Sl 53:4 ). 
Mas, se Deus prometeu enviar o Messias para expiar o pecado do povo, é obvio que com esta ação Deus estava demonstrando que o povo era pecador ( Mq 1:5 ). Seria um contra senso Deus colocar o seu Filho Unigênito por expiação do seu povo, se o povo não fosse pecador ( Mt 1:21 ). 
Como Deus pôs a alma do Messias por expiação do pecado, certamente o povo tinha que reconhecer-se pecador. Como veio salvar os ‘enfermos’, neste caso, Jesus não seria de proveito algum para os que presumiam que não estavam enfermos"Verdadeiramente ele tomou sobre si as nossas enfermidades, e as nossas dores levou sobre si; e nós o reputávamos por aflito, ferido de Deus, e oprimido" ( Is 53:4 ). 
É necessário a qualquer que deseja a salvação reconhecer seu estado de perdição, assim como era necessário aos escribas e fariseus reconhecerem que estavam perdidos como ovelhas desgarradas, pois o Cristo foi enviado aos perdidos, enfermos"Todos nós andávamos desgarrados como ovelhas; cada um se desviava pelo seu caminho; mas o SENHOR fez cair sobre ele a iniquidade de nós todos" ( Is 53:6 ). 
Jesus anunciou ter sido enviado as ovelhas perdidas da casa de Israel quando os discípulos rogaram que despedisse a mulher Cananéia: - “Senhor, Filho de Davi, tem de misericórdia de mim, que a minha filha esta miseravelmente endemoniada” ( Mt 15:22 ); "E ele, respondendo, disse: Eu não fui enviado senão às ovelhas perdidas da casa de Israel" ( Mt 15:24 ). 
Embora não quisessem enxergar a verdade, através desta parábola Jesus demonstra que os israelitas estavam fatalmente perdidos, enfermos “E aqueles dos fariseus, que estavam com ele, ouvindo isto, disseram-lhe: Também nós somos cegos? Disse-lhes Jesus: Se fôsseis cegos, não teríeis pecado; mas como agora dizeis: Vemos; por isso o vosso pecado permanece” ( Jo 9:40 -41). 
Os escribas e fariseus entendiam que não eram como os demais homens, pecadores, e chegavam ao ponto de acreditarem que observavam a lei cabalmente. Eles não se sentiam necessitados, órfãos, pobres, tristes, oprimidos, antes acreditavam que tinham Abraão por pai, portanto, se consideram abastados, salvos ( Mt 23:28 ). 
Um enfermo reclama de suas dores e um pecador, por sua vez, dos seus pecados, mas dos judeus ouvia-se somente que nunca foram escravos de ninguém. Sob esta ótica, se não estavam perdidos, porque esperavam um salvador? Eles desejavam um redentor nacional, mas Deus havia providenciado redenção do pecado. Daí a fala do apóstolo Paulo: "Se esperamos em Cristo só nesta vida, somos os mais miseráveis de todos os homens" ( 1Co 15:19 ). 
A fala dos judeus frente à mensagem de Cristo era como se não necessitassem da intervenção divina para serem salvos. Com provérbio “Os sãos não necessitam de médico”, Jesus demonstrou que fora enviado aos perdidos, ou seja, a todos os homens, porém, os judeus estavam apegados à lei, à circuncisão e à descendência de Abraão para serem salvos. 
Os escribas e fariseus precisavam reconhecer que estavam enfermos para serem beneficiados com a vinda do Messias. Mas, os dizeres dos escribas e farizeus era como a de uma ovelha gorda e forte "A perdida buscarei, e a desgarrada tornarei a trazer, e a quebrada ligarei, e a enferma fortalecerei; mas a gorda e a forte destruirei; apascentá-las-ei com juízo" ( Ez 34:16 ). 
Diante da mensagem do evangelho alguns pareciam dar credito, visto que muitos vieram ao batismo de João, e outros até creram em Cristo, porém, quando eram postos à prova, tais judeus apresentavam a argumentação de que nunca foram escravos de ninguém, que eram filhos de Abraão, etc. ( Jo 8:31 e Mt 3:9 ). 
Jesus não veio convocar os livres, porém os seus interlocutores alegavam nunca terem sido escravos de ninguém ( Jo 8:33 ). Jesus veio buscar os perdidos, os doentes, os necessitados, os tristes, etc., porém, os filhos de Jacó consideravam nunca terem transgredido a aliança de Deus “E saindo o pai, instava com ele. Mas, respondendo ele, disse ao pai: Eis que te sirvo há tantos anos, sem nunca transgredir o teu mandamento, e nunca me deste um cabrito para alegrar-me com os meus amigos” ( Lc 15:29 ). 
Neste diapasão, muitos dos filhos de Jacó achavam ter uma condição diferenciada diante de Deus por não se comportarem conforme os demais homens: "O fariseu, estando em pé, orava consigo desta maneira: Ó Deus, graças te dou porque não sou como os demais homens, roubadores, injustos e adúlteros; nem ainda como este publicano" ( Lc 18:11 ; Lc 13:1 -2). 
Os escribas e fariseus presumiam de si mesmos que tinham por pai Abraão ( Mt 3:9 ), pelo fato de serem descendente da carne de Abraão, entretanto, somente os que pertencem a Cristo são filhos de Deus "E, se sois de Cristo, então sois descendência de Abraão, e herdeiros conforme a promessa" ( Gl 3:29 ). 
Por se acharem justos é que Jesus conta a parábola das cem ovelhas, demonstrando que a ‘ovelha perdida’ são aqueles que reconhecem a sua real condição e, por isso, Jesus veio em busca delas, e as ‘noventa e nove ovelhas no deserto’ referem-se àqueles que são justos aos seus próprios olhos, pois presumem que não estão perdidas e que não necessitam de arrependimento “Digo-vos que assim haverá alegria no céu por um pecador que se arrepende, mais do que por noventa e nove justos que não necessitam de arrependimento ( Lc 15:7 ). 
Para aprenderem o que significa ‘misericórdia quero’, os escribas e fariseus teriam que ler Oseias 6, onde vem expresso o convite para se converterem ao Senhor, pois foi Deus quem os despedaçou e feriu, mas caso arrependessem, Deus haveria de sará-los “VINDE, e tornemos ao SENHOR, porque ele despedaçou, e nos sarará; feriu, e nos atará a ferida. Depois de dois dias nos dará a vida; ao terceiro dia nos ressuscitará, e viveremos diante dele” ( Os 6:1 ; Dt 28:63 ). 

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